segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Exposição "Janela para o céu"


Em busca de romper os limites físicos do confinamento em um pátio de apartamento, procurando um olhar que se expandisse para o espaço aberto, cheguei a uma série de fotografias que dirigem o olhar para o alto, em direção ao céu. Estas fotografias apresentam, em função da direção da mira e da arquitetura circundante, uma perspectiva acentuada e uma profundidade que conduzem o olhar vertiginosamente para dentro da imagem. O projeto Janela para o céu tira partido desta perspectiva e da sensação de vertigem para criar um paradoxo em um jogo que confronta o que a imagem evoca como representação e o que pode provocar como sensação para o olhar do visitante.

Procurando por uma maneira de apresentar uma das imagens deste ensaio, sem que esta se configurasse apenas como mais uma fotografia colocada na parede e simplesmente dada ao olhar, cheguei a um projeto de instalação que faz uso da fotografia. A situação criada pela instalação procura expressar o desejo de provocar o lugar da imagem e a sua relação com o espaço da galeria, de convidar a outra forma de se olhar e se relacionar com uma fotografia.

O projeto, selecionado pelo edital da Coordenação de Artes Plásticas da Secretaria de Cultura de Porto Alegre para exibição no Paço Municipal da Prefeitura, tem abertura no dia 14 de agosto de 2009, às 19h. A visitação acontece até 12 de setembro.


Ficha Técnica

Fotografia e concepção: Luciano Laner
Projeto museográfico: Letícia Castilhos Coelho
Projeto luminotécnico: Mirco Zanini
Montagem: Bruno Teixeira e Roger Kichalowsky
Produção: Babilônica Arte e Cultura

domingo, 2 de agosto de 2009

O mundo como devir imagem

Texto de Alexandre Santos para a exposição "Janela para o céu"

Ao brincar com a noção da arte constituindo-se como uma janela para o mundo, Luciano Laner nos convida a pensar sobre a tradição representativa do Ocidente. De certo modo, é da paisagem que ele nos fala, ainda que a sua provocação parta daquilo que é próprio da imagem fotográfica em contrapartida à pintura: o enquadramento e o fora de campo. Se, em termos de fotografia, o exercício do enquadramento implica sempre percebermos que existe a contrapartida do fora de campo, ou seja, de que existe algo que ficou além do recorte na tomada, uma imagem que aponta para o céu pode muito bem constituir-se como um fora de campo intencional.

Nos moldes da fotografia produzida pela Nova Visão do início do século XX, o enquadramento produzido por Luciano valoriza um fora de campo, uma zona desprezível do olhar e da representação, como o próprio elemento constitutivo da imagem. Neste exercício de tomada em contra-plongée, o céu – que poderia ser coadjuvante e ocupar um terço do espaço compositivo se nos remetemos à tradição pictórica paisagística – torna-se o próprio centro da imagem. Em suas bordas, restos de uma prosaica arquitetura. Nesta desconstrução da perspectiva, a representação celeste aparece como elemento de estranheza que acarreta pela falta uma reflexão sobre a ortogonalidade.

Longe de instaurar uma relação estável para o exercício do ver, a janela para o céu de Luciano se apresenta como um abismo, um oceano repleto de possibilidades, completamente dissonante em relação aos sistemas tradicionais de representação. Instalado na galeria escura como um autêntico dispositivo do ver, parecido com os pré-cinemas no século XIX, este céu torna-se também um chão, que nos re-ensina a olhar. Como paisagem quase vertiginosa, a sua fruição leva o espectador a voltar-se para o chão, repetindo neste sentido o gesto da melancolia em suas representações iconográficas: ao voltar-se para o chão em atitude de devaneio, a imagem da melancolia busca a razão. Entretanto, a qual razão conduz o céu/abismo de Luciano Laner? Talvez a sua janela conduza ao próprio chão da arte, que neste caso é o de pensar o mundo como devir imagem, inacabado em sua imperfeição. Este não deixa de ser o sentido melancólico inexorável de todos os que vivem de fazer ou de apreciar a arte.

Alexandre Santos
Agosto de 2009

Alexandre Santos é Historiador e Crítico de Arte, Professor e Pesquisador do Instituto de Artes - UFRGS